Teologia ortodoxa em Dostoiévski: do intelecttus ocidental ao affectus oriental.

Resumo

Este artigo demonstra a distinção entre as teologias ocidental e oriental. Enquanto a primeira reserva ao intelecto o seu exercício, a segunda o reserva à experiência (affectus) direta com o divino. Fiódor Dostoiévski, cristão do século XVIII russo, bastante influenciado pela mística ortodoxa (o lado oriental da teologia cristã), deixa nítido no seu último livro escrito, Os Irmãos Karamázov, o como a experiência mística exerce no homem não somente um contato com o divino, como também uma metanoia, um frequente “retorno em si mesmo” capaz de transformar o homem de dentro para fora. Três personagens são analisados: os padres Zózima e Teraponte, e o ateu Ivan Karamázov. Ambos experienciam uma visitação do divino que os expõe a si mesmos, sendo cada qual transformado de um jeito distinto, debatendo-se ora consigo próprios, ora com os demônios que também refletem as suas naturezas pecaminosas. Se a teologia ocidental prezou tanto o intelecto como instrumento de conhecimento de Deus, a teologia oriental aponta para um outro sentido: o homem é um animal visitado.